Filosofia: Ensino e Pesquisa

Direitos Fundamentais e Democracia!

domingo, 4 de setembro de 2016

É conversando que a gente se entende? Antonio Marques



Se há diferentes percepções e concepções de justiça, de humanidade, de corpo, de natureza, de vida, de morte, de bem-estar, de saúde, de práticas curativas, de dignidade humana...irão surgir, provavelmente, tensões entre moralidades divergentes e alternativas também múltiplas para resolverem os conflitos. Neste campo há desde a defesa do predomínio do mais forte até a construção de um acordo que tente satisfazer a todos os envolvidos, um pacto de convivência entre as diferenças e que leve em conta as cosmovisões de todos.

A construção de um acordo, de tal modo que os meios e os fins estejam unidos, só pode ser feita pelo diálogo voluntário. A Regra de Ouro então não é “não faças aos outros aquilo que não queres que te façam” mas sim “não faças aos outros aquilo que eles não querem que lhes seja feito”. Para isto precisamos dar voz a todos os envolvidos. O diálogo entre os indivíduos e as culturas pode possibilitar a cada um desenvolver tolerância às diferenças e consciência de nossas próprias incompletudes. ....várias comunidades morais podem coabitar o universo de uma nação, várias nações podem coabitar pacificamente num mesmo planeta...

Mas o diálogo, a discussão, o debate...públicos na sociedade civil brasileira ainda está no paleolítico. Muita gente não gosta nem mesmo de ser questionada mesmo que de modo respeitoso. Se alguém discorda do nosso ponto de vista temos que perguntar o porquê. E se o porquê não nos convencer, apresentar nosso argumento, e assim o diálogo pode fluir de modo a chegarmos a um consenso ou, ao menos, a uma compreensão,  com maior nitidez, das nossas diferenças. E se há desacordo quanto às categorias utilizadas, elas devem se tornar imediatamente a pauta da nossa interação. Apenas aferindo nossos termos e sintonizando nossas vibrações podemos verdadeiramente nos compreender.

E aqui na Terra, por mais que alguns se sintam superiores, somos todos sobreviventes e somos também todos mortais. Só não morre, os que não nasceram. Todos temos nossas convicções, mas isto não quer dizer que estamos todos certos. Há valores, sistemas de pensamento, pontos de vistas e argumentos melhores do que outros. Do ponto de vista do bem comum, o anti-racismo é melhor que o racismo, a anti-homofobia é melhor que a homofobia, o anti-fascismo é melhor que o fascismo, o feminismo é melhor que o machismo-femismo, o discernimento, a humildade e a maturidade são melhores que a presunção, a arrogância e a imaturidade.

O diálogo desta forma pode se tornar menos um véu que nos divide e mais um instrumento de humanização e auxílio na libertação dos sujeitos da condição de “seres para o outros” para a condição de “seres para si”.

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