Se há diferentes percepções
e concepções de justiça, de humanidade, de corpo, de natureza, de vida, de
morte, de bem-estar, de saúde, de práticas curativas, de dignidade humana...irão surgir, provavelmente, tensões entre moralidades divergentes e alternativas também
múltiplas para resolverem os conflitos. Neste campo há desde a defesa do predomínio
do mais forte até a construção de um acordo que tente satisfazer a todos os
envolvidos, um pacto de convivência entre as diferenças e que leve em conta as
cosmovisões de todos.
A construção de um acordo,
de tal modo que os meios e os fins estejam unidos, só pode ser feita pelo
diálogo voluntário. A Regra de Ouro então não é “não faças aos outros aquilo
que não queres que te façam” mas sim “não faças aos outros aquilo que eles não
querem que lhes seja feito”. Para isto precisamos dar voz a todos os
envolvidos. O diálogo entre os indivíduos e as culturas pode possibilitar a
cada um desenvolver tolerância às diferenças e consciência de nossas próprias incompletudes. ....várias comunidades
morais podem coabitar o universo de uma nação, várias nações podem coabitar
pacificamente num mesmo planeta...
Mas o diálogo, a discussão, o
debate...públicos na sociedade civil brasileira ainda está no paleolítico.
Muita gente não gosta nem mesmo de ser questionada mesmo que de modo
respeitoso. Se alguém discorda do nosso ponto de vista temos que perguntar o porquê.
E se o porquê não nos convencer, apresentar nosso argumento, e assim o diálogo
pode fluir de modo a chegarmos a um consenso ou, ao menos, a uma
compreensão, com maior nitidez, das
nossas diferenças. E se há desacordo quanto às categorias utilizadas, elas
devem se tornar imediatamente a pauta da nossa interação. Apenas aferindo nossos
termos e sintonizando nossas vibrações podemos verdadeiramente nos compreender.
E aqui na Terra, por mais
que alguns se sintam superiores, somos todos sobreviventes e somos também todos
mortais. Só não morre, os que não nasceram. Todos temos nossas convicções, mas
isto não quer dizer que estamos todos certos. Há valores, sistemas de
pensamento, pontos de vistas e argumentos melhores do que outros. Do ponto de
vista do bem comum, o anti-racismo é melhor que o racismo, a anti-homofobia é
melhor que a homofobia, o anti-fascismo é melhor que o fascismo, o feminismo é
melhor que o machismo-femismo, o discernimento, a humildade e a maturidade são
melhores que a presunção, a arrogância e a imaturidade.
O diálogo desta forma
pode se tornar menos um véu que nos divide e mais um instrumento de humanização e auxílio na libertação dos
sujeitos da condição de “seres para o outros” para a condição de “seres para
si”.
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