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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Evolucionismo - Apenas uma teoria? Richard Dawkins




 
Imagine que você é um professor de história romana e de latim, ávido por transmitir seu entusiasmo pelo mundo antigo — as elegias de Ovídio e as odes de Horácio, a enxuta gramática latina exibida na oratória de Cícero, a refinada estratégia das Guerras Púnicas, a talentosa liderança bélica de Júlio César e os excessos voluptuosos dos últimos imperadores. É uma grande empreitada que requer tempo, concentração e dedicação. Mas continuamente você vê seu precioso tempo predado e a atenção de sua classe desviada por uma ululante matilha de ignoramuses (pois como especialista em latim você jamais cometeria o erro de dizer “ignorami”) que, com forte apoio político e especialmente financeiro, ronda sem tréguas, tentando persuadir seus desafortunados alunos de que os romanos nunca existiram. Nunca houve um Império Romano.

O mundo todo surgiu pouco antes das gerações hoje vivas. Espanhol, italiano, francês, português, catalão, ocitano, romanche, todas essas línguas e seus dialetos componentes brotaram de maneira espontânea e separadamente e nada devem a alguma língua predecessora, como esse tal de latim. E você, em vez de dedicar toda a sua atenção à nobre vocação de estudioso e professor dos clássicos, é forçado a gastar seu tempo e energia na retaguarda, defendendo a proposição de que os romanos existiram, sim, senhor: uma defesa contra uma exibição de preconceito ignorante que faria você chorar se não estivesse tão ocupado combatendo-a.

Se minha fantasia do professor de civilização latina parece estapafúrdia demais, vejamos um exemplo um pouco mais realista. Imagine que você é um professor especializado em história mais recente e que suas aulas sobre a Europa no século XX são boicotadas, tolhidas ou perturbadas de outras maneiras por grupos bem organizados, generosamente financiados e politicamente fortes de negadores do Holocausto. Ao contrário dos meus hipotéticos negadores de Roma, os negadores do Holocausto existem mesmo. São vociferantes, superficialmente plausíveis e sabem afetar erudição como poucos. Eles contam com o apoio do presidente de no mínimo um país atualmente poderoso, e em suas fileiras milita no mínimo um bispo da Igreja Católica Romana. Imagine que, como professor de história europeia, você continuamente se vê intimado a “ensinar a controvérsia” e conceder “igual tempo” à “teoria alternativa” de que o Holocausto nunca aconteceu e que foi inventado por um bando de sionistas embusteiros. Intelectuais adeptos da moda relativista entram no coro, bradando que não existe verdade absoluta: se o Holocausto aconteceu ou não é uma questão de crença pessoal, todos os pontos de vista são igualmente válidos e devem ser imparcialmente “respeitados”.

Os apuros de muitos professores de ciências atualmente não são menos terríveis.

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