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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sobre o Tempo



Pelo ritmo imposto pelo capital, os trabalhadores se tornam seres genéricos, isolados na coletividade governada pela força. As condições concretas do trabalho na sociedade impede o auto-esclarecimento dos trabalhadores. No espírito da modernidade o tempo é experienciado como um recurso escasso. A pressa que reina por toda parte produz efeitos desmobilizadores da reflexão crítica. Todos devem permanecer em movimento. Todos estão sob o látego de uma força superior. Os que ocupam posições de comando têm um pouco mais de autonomia apenas do que os seus subordinados; eles estão submetidos pelo próprio poder que controlam. (HORKHEIMER, 2002, p.162 e ADORNO, HORKHEIMER,1985, p.47). Mas embora tudo se movimenta, nada se modifica. Não é preciso nem um Zenão nem um Cocteau, nem um filósofo eleático nem um surrealista parisiense, para nos explicar o que a Rainha Vermelha quis significar com a frase que disse a Alice: “É preciso correr o mais que se pode para permanecer no mesmo lugar” (Capítulo 2 de Through the Looking-Glass). (HORKHEIMER, 2002, notas do t. 88, 89, 90, p.163). 

O capitalismo torna necessário uma concepção dominante de “tempo livre” como algo totalmente sem sentido. O capital tem de explorar o tempo do indivíduo para seu próprio objetivo – único e somente ele viável – de garantir a acumulação de capital. Tudo que estiver além disso deve ser degradado como tempo inútil ou, em outras palavras, “lazer” ocioso.  


“A produtividade do capital, mesmo quando se considera apenas a subordinação formal do trabalho ao capital, consiste na compulsão de produzir o trabalho excedente, trabalhar além das necessidades imediatas do indivíduo.” (MÉSZÀROS, 2002, p.203) 
 
O uso alternativo do tempo de vida dos indivíduos é inconcebível sem uma estrutura social em que se encoraje ativa e conscientemente o crescimento do tempo livre e se encontrem meios positivos para sua utilização. O problema surge como produção de dinamite social sob a forma de tempo livre frustrado, completamente desprovido de meios de aproveitamento, como vemos se manifestar de muitas formas nas nossas atuais sociedades. Surge as válvulas de escape: uma cultura de drogas1 generalizada, o divertismo (a comemoração pela comemoração), .....

Pode se facilmente imaginar o quanto aumentaria o perigo explosivo do ócio sem sentido nas sociedades capitalistas avançadas caso o tempo livre potencialmente disponível além do tempo necessário de trabalho que hoje é imediatamente explorável pelo capital não fosse canalizado pelo capital. Isso provocaria uma grave intensificação da violência social inseparável do desemprego crônico.
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1 “O consumo de drogas em massa é a expressão de uma miséria real e o protesto contra essa miséria real: é a busca enganosa de liberdade num mundo sem liberdade,...” (SITUACIONISTA, 2002, p.46)

Referências Bibliográficas:
ADORNO, Theodor, HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: fragmentos Filosóficos.
Tradução: Guido Antonio de Almeida, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
HORKHEIMER, Max, Eclipse da Razão - Centauro Editora – Tradução de Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: Centauro, 2002.
MÉSZÁROS, I. Para Além do Capital - Rumo a uma teoria da transição. Tradução Paulo César Castanheira e Sérgio Lessa - Editora da UNICAMP, 2002.
SITUACIONISTA, Internacional. Situacionista: teoria e prática da revolução; Tradução de Francis Wuillaume, Leo Vinicius – São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2002. (Coleção Baderna)


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